segunda-feira, 26 de setembro de 2011

(Apaga)

Não sei o que está acontecendo.
(Apaga)
Tenho me sentido ausente.
Eu percebi que sempre começo qualquer texto assim. Eu começo desse jeito e explico o que está acontecendo, mas dessa vez vai ser diferente.
Dessa vez eu não vou explicar porra nenhuma.
(Apaga)
Estou no meu quarto. A bancada bagunçada da qual eu me lembro muito bem de terem passado por ela todas as coisas que existem nessa casa. Meu gorro, meu cinto, meu pente, minhas lágrimas, a chave.
Pego a chave, abro a gaveta trancada.
Memórias. É. Algumas a serem lidas, outras a serem esquecidas, mas esse não é o ponto.
O ponto é: eu sou uma criatura tão simplória que guardo minhas memórias dentro de uma gaveta. O quão patético é isso?
Algumas moedas, talvez do troco de algum presente. Anéis. Procuro entre os anéis e o encontro. Dou uma boa olhada na parte de dentro dele, onde posso ver seu nome escrito, e onde procuro ouvir o sussurro da nostalgia. Não consigo.
É, são só lembranças.
(Apaga)
Fecho os olhos, me viro para dentro de mim e me pergunto se existe alguma coisa ali dentro.
Vejo a escuridão, e ouço uma risada.
Tento encontrar o dono dela, mas os ecos vêm de todos os lados.
Eu sinto a tristeza. Talvez ela esteja escondida, mas eu acho mais provável que esteja sendo mantida escrava da risada. Abro os olhos, estou bem.
Não sei o que está acontecendo comigo, mas acho que tenho passado por algumas mudanças.
Eu não sou capaz de amar, eu nunca fui, mas agora eu tenho certeza. Mas constantemente acredito estar gostando de alguém, e isso é o que me deixa fraco. Fecho os olhos.
Ele me repudia.
Abro os olhos.
(Apaga)
Estou tendo uma certa dificuldade para escrever textos hoje.
(Apaga)
Estou no meu quarto, tomando café. Não gosto de café.
Estou tomando para me manter acordado, não me incomodo de tomar algo que eu não gosto. Não vai fazer porra de diferença nenhuma.
Os únicos sons que posso ouvir são os das teclas batendo e o barulho da cortina balançando pelo vento leve. Acho que as cortinas gostam quando o vento as toca.
(Apaga)
Hoje é um dia comum. Posso sentir o calor, e posso sentir o frio. Posso sentir sono, fome, mas não o sinto. Não posso sentir aquilo que me faz humano, aquilo que chora, ri. Não posso encontrá-lo em lugar nenhum.
Giro a cadeira e me deparo comigo mesmo sentado na cama.
Talvez este não seja só mais um dia comum.

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