terça-feira, 20 de setembro de 2011

Ovos

Folheio o livro que desisti de ler há um tempo.
Procuro entre as páginas alguma da empolgação que se perdeu na época em que o lia.
Não encontro.
Me deito no chão e olho pro teto.
"Faz muito tempo que não olho pro teto" Reflito.
Não sei onde foi parar aquilo, aquilo que me fazia ler.
Era aquilo que me fazia rir de verdade também; sair, respirar. A vida era mais bonita.
Não era, mas pelo menos sua parte trágica estava escondida embaixo de algum tapete.
Ou entre as páginas desse livro.
Me levanto, cansado. Vou até a geladeira, abro a porta e fecho, duas vezes.
Percebo que o que quero não está na geladeira. Eu quero respostas, e isso não é o tipo de coisa que se coloca em uma geladeira.
Ou será que é?
Abro a porta da geladeira mais uma vez, procurando respostas.
Encontro ovos.
[...]
Enquanto como meus ovos mexidos, leio uma notícia de jornal.
"As 10 Profissões Mais Estressantes"
Talvez eles não considerem viver como uma opção, muito menos amar.
"Talvez fosse mais fácil se eu amasse a vida."
Balanço a cabeça, procurando me desviar desse pensamento idiota. "Não tem como amar a vida."
A vida não é algo para ser amado, ela não foi feita pra isso.
Acho que amar a vida seria o mesmo que amar esses ovos mexidos.
Sabe, eles podem ser até bons, mas não posso amá-los, eles são somente... ovos.
Não são tão relevantes assim para que façam alguma diferença significativa para alguém.
E, como a vida, eles também vão acabar.
A diferença é que esses vão acabar em questão de segundos, enquanto a minha vida talvez dure mais alguns anos.
Talvez não, mas penso nisso depois.
Agora só quero terminar meus ovos e procurar um bom livro pra ler.

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