quarta-feira, 14 de janeiro de 2015

astronauta

enxergo o final da minha caminhada. do parapeito, todos os prédios, casas e pessoas se tornam minúsculas, como se nunca houvessem tido importância alguma. as estrelas, no entanto, parecem maiores daqui - de certa forma, elas estão.
algo no ar daqui também é diferente. enquanto respiro, tremulo, como se eu estivesse mais leve. me sinto como a vela de um barco abandonado no cais, sem rumo e sem porquê. talvez eu pudesse sair voando se meu peito não estivesse tão pesado, talvez eu percorresse o mundo inteiro...
mas ele está.
fecho os olhos e dou o primeiro passo.
alguém algum dia disse que raramente é o impacto da queda que mata os suicidas.
dou mais um passo.
muita gente diz muita coisa.
e mais um.
quando eu era menor, eu dizia que queria ser astronauta. na verdade, eu só queria morrer realizando algo heróico pra salvar a Terra, como nos filmes de ação que eu via.
dou mais um passo.
(sem chão)
enquanto vôo, o sol nasce e os pássaros cantam. homens e mulheres despertam ou caem no sono pelo mundo inteiro.
minha boca está seca.
estou salvando vocês de mim.

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