quinta-feira, 6 de novembro de 2014

Crú.

Os textos estão muito crús e os dias estão muito vazios. Os dias estão muito crús e a comida não tem gosto. As suas cartas se perderam em algum lugar entre os papéis e os ímãs de geladeira e as fotos de família e os incensos e as estatuetas de santo e a cachaça artesanal. Ta tudo lá no mesmo lugar, mas o mesmo lugar está mais vazio do que todos os dias e todos os textos e a alma. Eu não quero mais sentar nessa cadeira gorda e nem pisar nesse chão frio. O chão está frio como os meus textos, como as suas cartas que se perderam entre a bagunça. Os ímãs e as fotos e os incensos e as estatuetas de santo sabem disso tanto quanto eu. Desde que você se foi, tudo aqui parece frio como o chão e flácido como a cadeira e crú como meus textos e sem gosto como a comida e vazio como os meus dias.

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