terça-feira, 11 de novembro de 2014

Despedida.

Peguei minhas folhas de rascunho, meus poemas, meus cadernos de desenho, minhas roupas; coloquei tudo na mochila velha e surrada. Olhei as fotos e ignorei. Olhei os móveis, as paredes, a geladeira velha. Ignorei. Peguei a bebida, tomei um trago e afoguei uma lágrima. Tinha que sair antes que as outras lágrimas chegassem, então me apressei e enfiei a garrafa de qualquer jeito na mochila, amassando os poemas e as lembranças. Parei. Respirei fundo e segurei a dor, segurei a mochila e saí porta afora. Me despedi do cachorro que se despediu de mim enquanto chorávamos (ele e eu). Andei pela selva que cobria meu quintal, me despedindo mentalmente daquele insuportável cortador de grama. Pulei o muro enquanto me despedia do muro que era pulado por mim, e o cachorro continuava latindo e chorando e pulando. Cheguei no chão com força demais, bati. Lati e continuei chorando. Manquei até o ponto e peguei o primeiro ônibus que passou. Sentei, chorei e dormi até chegar o meu destino, fosse ele qual fosse. Parei na frente de uma igreja e deitei ali mesmo. Rezando, latindo e chorando por um amanhecer que tardaria a chegar.

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