domingo, 23 de novembro de 2014

facas.

Os cigarros acabam enquanto fumo o último deles no meu quarto-banheiro. Tem um homem esfaqueado ali no canto, mas ninguém faz nada a respeito. Eu também sou como ele. Esfaquearam meu orgulho, minha masculinidade, minhas crenças e minha liberdade. De homem mesmo, só me sobraram as bolas, e tenho certeza que algum imbecil desses já pensou em arranca-las. Ainda não o fizeram, porém. Eles tem medo de mim aqui, eu sou maluco. Não dá pra controlar um homem que não teme nada, e é isso que eles acham que eu sou. Eu não sou esse homem, eles só não encontraram meus medos ainda. Eu temo não poder sair daqui nunca, ficar preso na mesma comida com gosto de bosta e no quarto-banheiro fedendo a facada. Temo não ser capaz de progredir intelectualmente, me tornar um deles, esfaquear alguém. Mais do que isso, temo não poder esfaquear alguém quando realmente PRECISAR esfaquear alguém, e acabar morrendo por isso. Meu cigarro acabou. O homem sangrando acabou de sangrar e agora me olha com uma cara torta, sem piscar. Talvez eu deva meter a porrada nele, só pra dizer que fui eu quem fez isso. Talvez não. Vasculho os bolsos dele e encontro mais um cigarro. Acendo-o e espero pelas facadas que ainda estão por vir.

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