sábado, 15 de novembro de 2014

Poema de rua.

A chuva não é bem-vinda, o frio também não. Tudo no mundo é poesia, mas nada me satisfaz como tal. Sou como o fósforo que se apaga antes de queimar o pavio da vela, morrendo antes de completar meu propósito. O mais triste, porém, é acordar a cada dia e perceber que estou mais distante de ser eu mesmo do que no dia anterior, perceber que meu fogo está diminuindo e diminuindo, e que um dia não sobrará mais nada. Essa falta de motivação para viver, descrita por muitos como um "vazio existencial", é a causa de um vazio ainda mais profundo, de um lamento ainda mais doído: a falta de motivação para escrever. Como na vida, nada do que leio me conforta e nada do que escuto me faz querer confortar. Sou um perfeito infeliz viciado em cafeína, cocaína, nicotina. Visivelmente cru e inevitavelmente morto, para os mais leigos. Não posso ser um bom escritor porque não almejo ser um. Um escritor nos dias de hoje é, para mim, o exato oposto de um cão domesticado: gasta palavras demais e adquire pouca ou nenhuma felicidade. Eu também não sou o cão, me vendo assim em uma posição neutra entre ambos; não gasto suficientes palavras, mas também não sou feliz. Essa anormalidade me faz uma pessoa simples. Guardo o cigarro no bolso e o isqueiro no outro, pra não confundir. Não ando com dinheiro para não ser assaltado, não faço compras no cartão abaixo de 10 reais. Não tenho objetivos ou amizades, não tenho porquês ou poréns. Sou um meio-poeta vira-lata, andando nas ruas à procura de alguma coisa que queira ser procurada. Entretanto, minha busca permanece sendo um mistério além de minha compreensão, sendo apenas menos confuso do que todas as pequenas nuances do cotidiano.

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